Há um distanciamento. Enquanto a maioria das pessoas procura mais espaço, prefiro menos. Interiores amplos me intimidam. Espaços grandiosos me deixam exposto e desprotegido. Talvez por estas sensações consiga achar identificação com o ensaísta russo Joseph Brodsky, que, quando criança, viveu com seus pais em Leningrado num cômodo e meio que media 40 m². Ele dizia que aqueles eram os melhores metros quadrados que havia conhecido. “Não é a ampliação do espaço, mas sua redução que é sempre mais coerente”, escrevia.
As grandes avenidas paulistanas carregam gestos amplos, já as ruelas sinuosas de Roma provam gestos contidos. Da janela de um avião, a cidade lembra um cérebro cujas fendas e dobras compartimentam o espaço e ocultam histórias. Sob esse olhar expansivo adoto a fotografia – como recorte -, para alinhavar sentimentos através de um prisma. Em frações de segundo o despercebido é encorajado a tornar-se grandioso.
Neste enredo, estamos diante de mais uma oportunidade de reflexão e debate. Desta vez, com o prazer de lançar o olhar sobre a vida de encortiçados paulistanos por meio dos espaços que cada um chama de seu. ‘Entre Linhas – [sobre]vivência em cortiços paulistanos’ traz à tona o grande desafio para aqueles que acreditam nas possibilidades de construção de um novo mundo e têm nas crianças, adolescentes, homens e mulheres o grande patrimônio nacional como verdade.
Coloca-nos diante da denúncia da situação vexatória e humilhante a que estão submetidas muitas pessoas, ao tempo em que nos desafia a assumir o compromisso com o rompimento dos mundos que separam gente de gente para construir uma nova relação ética, cidadã e de garantia de direitos básicos para todos.
Das imagens de beleza e indignação, surge-me outro quadro que fica próximo do patético ou do ridículo. A sociedade brasileira passou a se envolver com um tema que até então foi tratado como problema do Estado ou do âmbito privado das famílias. Aos poucos, uma nova concepção em torno da pobreza vai tomando conta da discussão e do interesse nacional. A questão da pobreza é colocada sob a ótica do conceito de situação de risco pessoal e social.
Mas o atual momento, sobretudo da vida de pessoas que moram em cortiços, requer outro ingrediente captado por “teleobjetivas”, que envolva as reflexões, os debates e as providências adotadas tanto pelo Estado quanto pelos cidadãos. Ao passo que aparentemente a vivência em cortiços seja um problema histórico, há um movimento que tenta impor a cena como caminho sem volta para sociedades modernas. Falta emprego, saúde, educação, dignidade e, às vezes, sobra apenas um sentimento.
Como o crescimento e a estabilidade econômica por si sós não diminuem as injustiças e as desigualdades sociais e como a globalização não enfrenta a exclusão social do ponto de vista político, econômico e social, deixa-se de encarar a realidade e as causas da pobreza.
Desta forma, ficamos diante de um jeito enganoso. A ideia que é transmitida afronta que estamos diante de novos problemas sociais – mas na verdade o que temos são velhos pobres vivendo novas agonias e novos pobres vivendo velhas situações geradas durante a exploração do homem pelo homem.
Em cada cortiço estão os novos desempregados, os novos sem-teto, sem-saúde e sem-escola. E, talvez o mais grave de tudo: infância e juventude crescendo sem perspectiva de futuro. Passamos boa parte do tempo vivendo e convivendo com os contrastes e as contradições de dois mundos. De um lado, as pessoas que estão dentro das famílias, das escolas, dos parques, dos clubes, da tecnologia. Do outro, dos homens e mulheres que vivem de memórias, contabilizam moedas, conseguem chorar e sorrir como se os sentimentos fossem os mesmos, vivem da caridade, ou do suor de um trabalho qualquer. É o abismo que separa qualquer metrópole.
Por esses motivos e em soma com a denúncia sob um novo olhar, ‘Entre Linhas – [sobre]vivência em cortiços paulistanos’ permite reacender um sonho, despertar a crença e declarar o longo caminho a percorrer em direção à solução dos graves problemas que nos cercam e que têm em suas raízes, além das condições de moradia, o descaso com o óbvio.
Este ensaio destina-se, apenas, a encher nossos olhos com nossa própria liberdade – seja por meio da fala, do pensamento, das emoções e, até mesmo, do desprezo. Neste espaço, a arte e o jornalismo servem para provocar, tão somente, como condutores que ligam o cotidiano ao sonho.
‘Entre Linhas – [sobre]vivência em cortiços paulistanos’ vai além das imagens arquitetônicas, exibe o lar e a vida de ‘Cidadãos’ com ‘C’ maiúsculo.
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